Culpa e Autorresponsabilidade - dois pesos e duas medidas
- Maria Carolina Passos
- 27 de mai.
- 1 min de leitura
Ambas culpa e autorresponsabilidade podem aparecer no discurso como formas de reconhecer algo vivido, que se fez ou que se sofreu. Mas, do ponto de vista psíquico, seguem caminhos bem diferentes.
A culpa, quando cristalizada, tende a paralisar. Faz a pessoa girar em torno do próprio erro ou apontar para o passado, como quem diz “sou assim por causa daquilo”. Tem ares de autorreflexão, mas muitas vezes é uma forma sofisticada de evitar o incômodo de mudar.
A autorresponsabilidade, por outro lado, não é sinônimo de culpa. É a capacidade de se implicar no que se repete. De se perguntar:
🪞 O que em mim sustenta isso?
🪞 Por que sigo voltando ao mesmo ponto, ainda que por caminhos distintos?
🪞 O que posso fazer com o que me tornei?

Na clínica, escutamos histórias da infância, da criação, dos pais - não pra determinar culpados, mas pra reconhecer o que ainda atua ou ecoa no presente. Não se trata de apagar o passado, mas deixar de ser refém dele.
A culpa, na psicanálise, tem valor ao ser ponto de partida para a elaboração, não como conclusão ou estagnação. Ao virar a chave da culpa para a autorresponsabilidade, o sujeito se assume como agente do próprio desejo.
Assumir a autoria de si pode parecer algo natural, mas está longe de ser simples. Tampouco confortável: afinal, exige atravessar a dor sem se fixar nela.
E é justamente aí que se abre uma via genuína de transformação…
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