A rotina de “Brain Rot” e o impacto na saúde mental: reflexões psicanalíticas

O Dicionário Oxford escolheu como termo de 2024 a expressão brain rot (ou podridão cerebral), que tem por definição a degradação mental causada pelo consumo excessivo de conteúdos superficiais nas redes sociais.

Esse fenômeno tem sido associado ao aumento dos problemas de saúde mental, especialmente no Brasil, onde - pelo menos, eu diria - 26,8% da população é afetada por questões psicológicas (fonte: Meio). Isso sem contar o recorde de 68% de afastamentos de trabalho da última década devido, sobretudo, a ansiedade, depressão, cicatrizes da pandemia e burnout de forma geral - mas isso é assunto pra outro post.

Em um cenário onde a lógica de produtividade se sobrepõe ao cuidado com a saúde como um todo, é necessário questionarmos até que ponto estamos sendo engolidos por essas dinâmicas. Brain rot não é apenas sobre um desgaste ou declínio cognitivo, mas sobre a perda de contato com o essencial e o autêntico.

Como psicanalista, percebo que esse consumo incessante de estímulos rápidos e vazios contribui para uma desconexão com o mundo real, dificultando o contato com nossos próprios pensamentos e sentimentos.

Em vez de aprofundarmos nossas reflexões, ficamos à deriva em uma onda constante de informações que não nos desafiam a pensar de forma criativa ou crítica, e ainda têm o potencial de plantar ideias prejudiciais - tanto no plano individual quanto coletivo.

E, enquanto as questões sociais coletivas são imensas, podemos fazer algo individualmente: resgatar o tempo de introspecção, o direito de nos desconectar e fortalecer nossas bases emocionais e psíquicas.

Essa reflexão também toca diretamente no papel da psicanálise, que visa restaurar nossa capacidade de questionamento, percepção crítica e, principalmente, de autoconhecimento. Como podemos evitar o "brain rot"? Como nos proteger de sermos consumidos por uma cultura de excesso e superficialidade, sem nos alienar completamente da realidade?

O processo psicanalítico oferece uma chave: entender nossos próprios processos e restabelecer um contato mais genuíno com a nossa mente 🧠❤️