Ambivalência - entre o nojo e o prazer
- Maria Carolina Passos
- 2 de out.
- 2 min de leitura
Você já se pegou hipnotizado(a) por vídeos de cravos sendo espremidos? Ou sentiu um prazer quase inexplicável ao cutucar a própria pele? A cena pode até ser repulsiva… mas pra muita gente é também irresistível.
Essa contradição não é um defeito da mente, é o inconsciente mostrando sua “cara” - ou, talvez, puxando suas máscaras.

Chamamos de ambivalência essa dança entre forças opostas coexistindo dentro de nós, dirigidas ao mesmo objeto, como amor e ódio, desejo e repulsa, atração e desprezo... Essa coreografia não surge do nada, é o movimento próprio das pulsões: forças inconscientes que nos habitam e nos empurram ao mesmo tempo em direções distintas. Elas não são “boas” ou “más”, são paradoxais por natureza.
O mesmo impulso que nos leva a cuidar do corpo pode nos levar a agredi-lo, direta ou indiretamente. A mesma voz que diz “não toque nisso” é a que sussurra “só mais uma vez”. E é nesse entrelugar - entre o proibido e o permitido - que mora uma boa parte do nosso prazer.
A ambivalência pulsional aparece o tempo todo na clínica:
• na fala de quem ama profundamente alguém que também odeia;
• no sujeito que se sabota na véspera de conquistar o que mais quer;
• em quem deseja o que teme - ou teme exatamente aquilo que deseja;
(e eu apostaria que, enquanto lê, você já pensou em algum exemplo seu).
A contradição não é (necessariamente) uma falha, mas a própria lei da nossa estrutura; somos constituídos pelo conflito entre instâncias psíquicas e pelas forças pulsionais que nos atravessam.
💡 A análise não tem como tarefa ‘eliminar’ essas forças opostas, mas escutá-las. Quando a ambivalência pode ser nomeada, ela deixa de ser um conflito paralisante e passa a ser matéria viva da nossa subjetividade e do nosso desejo.
No fim, talvez o prazer de espremer um cravo ou espinha fale menos de um gosto “bizarro” e mais sobre a complexidade de SER humano.




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