Já “sei” meu problema, e agora?
- Maria Carolina Passos
- há 7 dias
- 2 min de leitura
O divã é um palco de revelações, mas a verdade em análise raramente tem a forma limpa e direta que esperamos. Você identificou a raiz do problema, nomeou a origem, desenhou o mapa da dependência familiar ou do nó financeiro. Isso é o que chamamos de racionalização - uma defesa sofisticada que usa a lógica pra criar uma ilusão de domínio.
É como se o inconsciente, astuto, lhe atirasse uma ponta de novelo (o "saber" consciente) apenas pra manter o novelo inteiro (o desejo não resolvido) firmemente escondido.
Acontece que o tempo do inconsciente não é o tempo do seu relógio ou da sua lista de metas. Ele é não-linear, embaralhado, feito de repetições e contradições simultâneas. O "saber" sobre o trauma ou o suposto impedimento é apenas um ponto no espaço. O agir e o destravar exigem que esse saber seja sentido, encarnado e, acima de tudo, trabalhado através da transferência.

A inércia não é falta de vontade, é resistência à mudança. É o seu aparelho psíquico preferindo a dor conhecida e estruturada à vertigem do (não) saber que a ação demanda. O obstáculo financeiro ou a dependência, por mais reais que sejam, servem como álibis perfeitamente montados pela sua economia psíquica.
O real trabalho analítico começa depois do "eu sei".
Ele reside na coragem de sustentar a suspensão e permitir que a sua história continue a se desdobrar, contradizendo as certezas que você já montou sobre si.
Talvez você já tenha parado pra pensar no que ou no quanto perde ao se manter refém de um saber paralisante, mas será que consegue admitir o que você ganha (psiquicamente falando)?




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