O tal do Propósito
- Maria Carolina Passos
- 23 de mai.
- 2 min de leitura
Na era dos coaches e do "seja sua melhor versão", parece que quem ainda não encontrou o tal do propósito já perdeu a corrida da vida. A vitrine do Instagram muitas vezes passa uma impressão artificial de que todo mundo é mais bem sucedido, feliz, amado, fitness, artístico, estiloso, viajado e até gastronômico que você 😮💨
Na clínica, ouvimos pessoas se sentindo atrasadas, inadequadas, velhas demais, como se tivessem feito apenas escolhas erradas - numa espiral de culpa - e agora estivessem fora do tempo. De onde será que vem essa ideia de que estamos vivendo à margem da timeline da nossa própria vida?

Podemos ir além e questionar: quem está ganhando (e lucrando) com essa neurose obsessiva coletiva? Mas isso dá pauta pra outro post. Hoje, vamos pensar na subjetividade do sujeito.
E se essa angústia não for exatamente sobre a falta de um propósito, mas sobre a tentativa de preencher um vazio que nos constitui?
A psicanálise não trata o vazio como um inimigo a ser vencido, nem um erro de projeto. Pelo contrário: ele é estrutural, faz parte da experiência humana. E talvez seja justamente isso que nos move - o desejo nasce onde falta.
O problema é quando o discurso contemporâneo transforma esse vazio em falha pessoal. Quando reduz o “propósito” a um plano de carreira ou a uma missão grandiosa que deve ser cumprida sob pena de fracasso.
Imagina acordar todo dia com esse peso? Ou ao deitar no domingo à noite…
Quiçá seja mais possível - e mais honesto - escutar o que pulsa em silêncio, acolher nossa trajetória e suas travessias, em vez de correr atrás de uma resposta definitiva sobre quem devemos ser “pro resto da vida que nos resta”.
O propósito, se existir, pode ser muito menos um destino... e mais um efeito do caminho que estamos - e vamos, por aqui ou por ali - trilhando.
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