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Psicanálise online: do divã ao reflexo na tela

  • Maria Carolina Passos
  • 27 de out.
  • 2 min de leitura

Freud provavelmente não imaginou que o setting analítico, um dia, se desdobraria para caber dentro de uma tela.


Se no consultório o deslocamento físico e a presença do corpo diante do analista compõem um cenário carregado de sentido - o cheiro do ambiente, o som da porta se fechando, o modo como alguém ocupa o espaço -, o atendimento online, expandido na pandemia, veio inaugurar outras dimensões de escuta.


Diante da tela, o analista se mantém atento a microexpressões, vacilos na voz, lapsos de linguagem, ecos sonoros, o entorno visível de quem fala. E o analisante, por sua vez, às vezes se vê. Literalmente. 


Entre fala e escuta, há também o olhar para a própria imagem - um instante quase narcísico, mas não na forma pejorativa que o termo ganhou no uso comum. Em Introdução ao narcisismo (1914), Freud descreve esse olhar sobre si como parte constitutiva da subjetividade, algo que se renova a cada vez que tentamos “ver” quem somos. 


🪞 Talvez a tela funcione, então, como um espelho inusitado. Não no sentido de vaidade, mas de contato - com a própria expressão, o próprio gesto, o próprio afeto.


Imagem criativa representando como a terapia psicanalítica se adaptou do tradicional divã para o mundo digital.

Uma vez que a transferência se instaura, o enquadre se sustenta mesmo sem o corpo compartilhado. E, quando cabe à situação analítica (sempre no caso a caso), é possível até redirecionar ou desligar a câmera, removendo distrações visuais, como quem deita num divã digital. O “olhar” sobre si se recolhe, e a fala pode se expandir.


Em tempos de hiperconectividade e isolamento, a psicanálise online representa uma via de acesso e de acessos. Da forma que encaro, não é uma substituição do consultório; é uma outra cena, com o mesmo rigor clínico e sua própria realidade.

 
 
 

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