Psicanálise tem duração definida?
- Maria Carolina Passos
- 18 de ago.
- 2 min de leitura
Se o trabalho psicanalítico pudesse ser resumido a um cronograma, não abarcaria a complexidade da vida interior. A psicanálise não é um relógio de ponto, mas uma bússola - não mede o tempo, orienta a travessia.
“Mas até quando vou precisar disso?” você pergunta ao analista ou, no mínimo, a si mesmo. A angústia por uma resposta é natural. Vivemos na era do 'fast', onde tudo tem prazo de entrega e garantia. O inconsciente, porém, não se encaixa nessa lógica.
A análise é um mergulho em águas “desconhecidas”, um processo contínuo de exploração e elucidação. Nela, descobrimos o que está oculto e damos forma ao que nos atravessa. Utilizando a citação do pensador Max Weber: “ao prosseguir os meus humildes esforços de criação, dependo numa grande medida daquilo que ainda não sei e daquilo que ainda não fiz.”

A pressa por chegar a uma conclusão pode impedir de percorrer caminhos essenciais, forçando a fazer remendos onde a obra precisava de fundação. O alívio momentâneo de uma catarse é apenas a ponta do iceberg. A verdadeira mudança acontece quando acessamos as causas e construímos um novo alicerce.
Por tudo isso, Freud defendia que a análise não sintetiza, ela analisa. Não se trata de dar uma resposta final, mas de mergulhar na pergunta, de explorar os múltiplos sentidos do seu sofrimento. É sobre se implicar em seu desejo e em seu modo singular de viver, sem a ilusão de um "final feliz", mas com a solidez de uma jornada verdadeira.
A duração de um tratamento de psicanálise é o tempo necessário pra você se (re)conhecer, descobrir seus próprios ritmos e construir a sua própria bússola. E, às vezes, essa jornada tem paradas e recomeços. O tempo com um analista pode chegar ao fim, apenas para que, em outro momento - com outro ou mesmo com o primeiro -, uma nova etapa da travessia se inicie.
A bússola, no entanto, é toda sua.




Comentários