Reclamar também é verbo do sujeito
- Maria Carolina Passos
- 9 de jun.
- 2 min de leitura
“Parece que eu só venho aqui pra reclamar…” Essa frase aparece com certa frequência na clínica. Em geral, carregada de culpa. Como se a pessoa precisasse se justificar por estar desabafando e, em alguma medida, sofrendo.
Vivemos num tempo em que reclamar virou ofensa. Falar da dor, do incômodo, da perda, do ressentimento… tende a ser rotulado como 'energia negativa'. Como se vivenciar a dor fosse um desvio do caminho do bem.
O psicanalista Contardo Calligaris disse em uma entrevista que “é preciso sentir plenamente as dores: das perdas, do luto, do fracasso. Eu acho um tremendo desastre esse ideal de felicidade que tenta nos poupar de tudo.”

A reclamação, na escuta analítica, não é um ruído a ser evitado. É material. É conteúdo. É expressão de um sujeito que, muitas vezes, está começando a nomear o que por tanto tempo ficou calado.
É claro que há diferentes formas de reclamar. Há quem reclame pra estancar a dor, e quem reclame pra não sentir e nem se ouvir. Quem repete, sem desejo de saber, apenas girando em torno do mesmo.
Mas mesmo aí, a queixa ainda tem algum valor: ela aponta para um gozo que se repete, um modo de se colocar no mundo - e de sofrer nele.
A psicanálise não silencia o ato de reclamar. Ela acolhe. E interroga:
• de onde vem isso que insiste em doer?
• o que o outro tem a ver com isso?
• qual é o seu lugar nessa cena?
Porque enquanto o mundo manda calar, seguir, performar bem-estar... na clínica, a gente se detém. Escuta e, porventura, abre caminhos pra transformação.
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