Você acha difícil dizer não?
- Maria Carolina Passos
- 3 de jun.
- 2 min de leitura
Atualizado: 4 de jun.
Negar um pedido, colocar um limite, contrariar uma expectativa... Esses gestos simples, em teoria, podem se tornar fontes de intenso mal-estar na vida psíquica. Muitas vezes, essa angústia é até difícil de nomear. Por que algo aparentemente tão básico como 'dizer não' pode nos provocar culpa, ansiedade ou confusão? Na clínica psicanalítica, esse fenômeno é observado com frequência - e está longe de ser apenas “falta de assertividade”.
Desde cedo, aprendemos que 'não' significa rejeitar e/ou ser rejeitado. A negação de uma demanda pode vir acompanhada do temor de perder o afeto, a aceitação ou uma imagem de bondade que buscamos sustentar no laço com o outro. Muitos indivíduos, então, passam a associar o ato de negar ao risco de serem excluídos ou vistos como egoístas.
Do ponto de vista psicanalítico, esse conflito remonta à formação do superego: a instância psíquica que representa a interiorização das exigências parentais e sociais. É o superego que nos dita o que devemos ser pra sermos dignos de amor, pertencimento e aprovação. Ele se estrutura a partir de identificações precoces com figuras de autoridade e tende a operar como um juiz severo, exigindo sacrifício do desejo em nome do ideal.

Nesse contexto, dizer não pode ser vivido como uma transgressão. Como se colocar um limite fosse um ato de deslealdade ou de insolência. É como se negar o desejo do outro significasse automaticamente negar o vínculo - e, com ele, a possibilidade de ser amado.
Mas o que acontece com quem nunca nega?
Na tentativa de preservar o laço, muitos se dobram e se apagam na expectativa alheia. O preço disso é alto: calar o próprio “não” é também calar o próprio desejo. E o desejo, quando silenciado de forma crônica, não desaparece, retorna. Retorna sob a forma de sintomas, angústias, insatisfações difusas que, geralmente, não conseguimos situar, mas que nos acompanham com um peso constante.
Na clínica, observamos que sustentar um limite, ainda que com culpa ou desconforto, pode ser o início de um movimento importante: o da subjetivação. Quando um sujeito começa a dizer “não” ao que o atravessa - ao que o anula ou de alguma forma violenta - ele começa também a afirmar uma posição no mundo.
👉 Uma posição ética, que não é a do ego inflado ou da rebeldia vazia, mas a do sujeito que reconhece seus próprios contornos e os sustenta com responsabilidade.
Dizer não, portanto, é um gesto de liberdade e lealdade a si. É afirmar: “aqui estou eu, com meus limites, desejos e escolhas.”
E isso, embora tenha o potencial de incomodar, é também o que torna possível um laço mais verdadeiro com o outro. Um laço em que não é preciso abrir mão de si pra ser aceito.
🫵 E você? Tem dificuldade pra dizer “não” e sofre as consequências disso?
Se a resposta for SIM, sinta-se à vontade pra me escrever. Podemos conversar para entender se a psicanálise pode ser um caminho pra você resgatar sua voz - e, com ela, uma vida mais sua.
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